João Luís Lopes dos Reis – Um Homem Superior

Volvido um mês sobre o desaparecimento de João Luís Lopes dos Reis, começo a recobrar do choque – que não da dor – que este tão funesto evento me causou. Paralelamente, ter lido quanto tantos dos seus demais amigos sobre ele escreveram já, se me ajuda a superar o trauma, simultaneamente reaviva-me a consciência da perda.

Efectivamente, o João Luís era tudo aquilo quanto dele se tem vindo a dizer. Foi um homem superlativo, já nas qualidades de carácter já nas de inteligência, já nas da sapiência como nas da sabedoria.

Personalidade ímpar e complexa, nele é difícil, quando não impossível, destacar a sua dimensão maior. Tanto assim que nós, que beneficiámos da sua amizade e da sua companhia, num momento sentimo-nos distinguidos com a sua dimensão fraternal, noutro gratos com a generosidade do seu imenso saber, noutro beneficiados com a ponderação da sua atitude, noutro impressionados com o seu rigor, noutro, ainda, para sempre divertidos com o seu cativante humor.

O João Luís foi o meu irmão mais velho, mais avisado, mais culto, mais esclarecido que, com inusitada disponibilidade, me incentivou, me acarinhou, me compreendeu e de mim exigiu. Mais do que tudo, em mim acreditou e por mim se empenhou e, por anos que viva, nenhum gesto conseguirei ter que exprima a gratidão imensa – por demais devida – que lhe guardo. Gostava tremendamente de gozar e aceitava genuinamente ser gozado, com a ausência de malícia espúria com que timbrava as brincadeiras. Não se punha nos bicos dos pés e, sendo imenso, espontaneamente reconhecia nos outros, mesmo nos adversários, os respectivos méritos.

Advogado de eleição, no João Luís vivificava a dedicação ao ofício, o empenho no estudo e no conhecimento, o zelo pelos interesses que representava, a correcção e a exigência na conduta, o espírito de colaboração com os colegas e com o tribunal e o amor pela Justiça. Tudo nele era competência, rigor e brio de elevado coturno.

Foi um homem excessivo, muitos o reputam e, creio, com razão: «excessivamente» inteligente, culto, frontal, laborioso, leal e amigo, tudo nele eram qualidades maiores. Não creio ser ainda possível aquilatar quanto se perdeu com a sua morte, não só em razão da imensidão do que dele havia a esperar como, rigorosamente, do ror de frutos que a sua inteligência rara, a sua cultura vasta e o seu afinco prodigioso já haviam dado.

João Luís, meu bom Amigo, foi concerteza a pressenti-lo já a si que o Poeta, certa vez, destacou:

«Aqueles que por obras valerosas
se vão da morte libertando»

Um abraço eterno do

Carlos