Há pessoas que são demasiado grandes para caberem nas palavras.
João Luís Lopes dos Reis foi uma dessas pessoas.
A sua grandeza de alma e de carácter, o seu lado humanista e afectivo
eram avassaladores – qualquer pessoa bafejada pela sorte de ser seu amigo se
sentia depositário de uma fortíssima corrente de compreensão e bondade, sempre
temperados por um agudo sentido crítico e uma lucidez notável.
Em contrapartida, era implacável e contundente para com a mediocridade,
a falta de princípios, a arrogância e a superficialidade, faceta que lhe valeu
a antipatia de alguns figurantes do milieu politico-judiciário - o que em qualquer caso não lhe tirava o
sono...
Era também senhor de um notável sentido de humor
Tive a felicidade de ser amigo dele e o privilégio de privar com ele
intensamente, em especial nos últimos anos.
Mas já antes tinha trabalhado com ele em mais de que uma ocasião e
sempre me pareceu que a sua acção num processo judicial resultava normalmente
numa seta dirigida à inteligência do Juiz.
Era fácil trabalhar com ele: o seu raciocínio claro e estruturado
“descomplicava” as coisas, tornando-as simples de compreender sem lhes retirar
a sua natural complexidade.
O João Luís tinha aquela capacidade especial de surpreender o essencial
e desvalorizar o acessório, interpretando a realidade como poucos o sabiam
fazer.
A essa qualidade aliava uma outra, uma enorme capacidade de resposta pronta,
frontal e rigorosa.
Um amigo como o João Luís não se perde - apesar de ele ter passado para outra
dimensão, ficaram as suas palavras, os métodos, os ensinamentos, os
instrumentos de análise, a argúcia interpretativa que nos exemplificou tantas
vezes.
Por isso parece-me justo que a Ciberjus se empenhe nos trabalhos de
homenagem que muito merecidamente irá receber.
A sua morte abre uma tremenda ausência – o mundo ficou muito mais pobre sem a
sua presença fraterna, vibrante e vigorosa.
Ficam os seus ensinamentos.
E fica também a dor e a revolta por essa tremenda injustiça da vida -
ceifar a vida de um Homem que aos 49 anos já tinha dado tanto e poderia vir a
dar muito mais aos seus semelhantes.
Até sempre, João Luís, meu querido Amigo.
Francisco Bruto da Costa